quinta-feira, 29 de outubro de 2015

quarta-feira, 28 de outubro de 2015



"Perfeito como as possibilidades"

Estas são as palavras que direi a mim própria quando precisar das palavras certas, repeti-las-ei nos dias bons para que as saiba de cor nos dias maus:
Levanta-te que a cama deixou de ser fofa no momento em que acordaste. Levanta-te com a vontade de quem quer fazer coisas até estar mais perto do que quer ser.
Levanta-te e procura uma coisa boa e sã para comer.
Depois lava-te até te sentires tão pura como sempre foste e serás.
Em seguida veste o mais perfeito que o dia deixar e pensa que este dia vai ser bom porque é hoje.
Este dia é bom porque é hoje.
E podes não ter vontade de viver e podes não ter vontade de sorrir, mas em vez disso tens de reserva as coisas boas que já fizeste e as coisas incríveis que estão por finalizar.
O antídoto para o peso de hoje é a força que sentias ontem.
Se alguma vez sentiste vontade isso é o precedente que te faz perceber que a vontade é criada por ti.
Se tudo isto te parecer falso tens razão.
Finge, finge, finge muito, finge bem, faz uma cena, uma grande cena, faz de conta que queres alimentar-te e vestir-te e lavar-te.
Faz de conta que queres sair de casa e trabalhar muito e com muita alegria.
Faz de conta que há sol e que chilreiam passarinhos rechonchudos enquanto atravessas a passadeira com o sinal a fechar.
Faz de conta que corre bem e que o mal é imaginário como as bruxas sem verrugas.
Abre hoje o precedente e se amanhã quiseres abre outro também.
Ama-te até andares mais rápido.
Adora-te até que pular seja altamente.
Admira-te como se te visses de cima quando voas e percebe que o que finges existe tanto como o que existe mesmo.
A diferença é o que tu queres e para os outros é indiferente.
Ninguém quer saber se sempre foste feliz ou se só começaste agora. O que interessa é que tenhas hoje forças para trabalhar por um mundo melhor.
E quando digo “por um mundo melhor” não digo o mundo todo.
Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me à tua casa, ao teu emprego, ao teu dia, à tua noite, à tua saúde, às tuas pessoas, às tuas tardes, à tua comida, aos teus ideais, à tua roupa, à tua louça, aos teus fins de tarde, às tuas madrugadas, aos teus jantares, às tuas noites cerradas, à tua chuva miudinha.
Quando digo “por um mundo melhor”… Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me ao teu mundo.
Isso mesmo, percebeste agora?
Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me ao teu mundo.
Sê realista, começa pelo teu mundo.
Amanhã será um dia melhor e poderás salvar mundos melhores.
Hoje é só um dia bom, terás que te contentar com este mundo que, depois do que te disse, se tornou perfeito como as possibilidades.
Atingir o que podemos é a perfeição.
Fazer o que a força pode é a única tarefa.
Trabalhares todos os dias de hoje é a tua maneira de pagares pelo ar que tens andado a gastar.

Faz o esforço que a tua paixão quiser e esforça-te por te apaixonares todos os dias.

Texto d' "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

segunda-feira, 26 de outubro de 2015



"Amo-te por fim e isto é só o início"

Ontem abracei a minha mãe enquanto ela remexia o estrugido para não queimar a cebola e ela disse:
- Deixa-me, filha que agora estou a fazer o jantar.
E eu disse:
- Não tenho fome.
E ela disse:
- Olha que queima.
E eu disse:
- Gosto do cheiro a cebola queimada nos teus braços. Amo-te de cebolada, mãe.
Ontem abracei a minha filha e ela disse que a deixasse em paz.
Deixei-a em paz e esperei em paz por um segundo melhor em que ela quisesse mais e precisasse mais de outro abraço.
Olhei com atenção e o segundo chegou rápido. Abracei-a então com mais carinho ainda e com um abraço que escolhi à medida do corpo que ela trazia na altura.
Eu gosto de dar o que os outros pedem, e querem, e precisam, e sentem, e merecem.
Para a minha filha, para a minha mãe dou o que sinto como sentiria se fosse este o último segundo de a ver.
Se estivesse a ver a minha pela última vez, se estivesse a ver a minha pela última vez dizia:
Gosto de ti para sempre porque um segundo é coisa pouca.
Mas sei que esta não é a última e isso é bom.
Esta vez não é a última mas é como se fosse porque na última posso não ter oportunidade.
Vou amar-te quando não estiveres mas amar-te-ei mais quando estiveres comigo.
Porque não sei como será o fim e porque não quero saber, a partir deste dia, direi o amor a quem amo como faço a mim própria quando gosto muito de mim.
Gostar de quem está perto e é bom para mim é a segunda melhor maneira de ser bom para mim.
A primeira é gostar de mim como um beijo no espelho.
Nunca digo à minha mãe que a amo porque sei que ela sabe, mas como sei que ela gosta de ouvir digo à mesma como se não soubesse.
Nunca digo à minha filha que a amo porque sei que ela sabe, mas como sei que ela gosta de ouvir digo à mesma como se não soubesse.
O amor só se sabe quando se tem a certeza e para se ter a certeza é preciso dizê-lo e repeti-lo muitas vezes até se saber de cor.
O amor só sabe bem quando se sabe de cor.
Decorei isto para ti, mãe… espero que gostes.
Decorei isto para ti, filha… espero que gostes.

Texto do livro "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

quinta-feira, 22 de outubro de 2015



"Amo-te por fim e isto é só o início"

Ontem abracei a minha mãe enquanto ela remexia o estrugido para não queimar a cebola e ela disse:
- Deixa-me, filha que agora estou a fazer o jantar.
E eu disse:
- Não tenho fome.
E ela disse:
- Olha que queima.
E eu disse:
- Gosto do cheiro a cebola queimada nos teus braços. Amo-te de cebolada, mãe.
Ontem abracei a minha filha e ela disse que a deixasse em paz.
Deixei-a em paz e esperei em paz por um segundo melhor em que ela quisesse mais e precisasse mais de outro abraço.
Olhei com atenção e o segundo chegou rápido. Abracei-a então com mais carinho ainda e com um abraço que escolhi à medida do corpo que ela trazia na altura.
Eu gosto de dar o que os outros pedem, e querem, e precisam, e sentem, e merecem.
Para a minha filha, para a minha mãe dou o que sinto como sentiria se fosse este o último segundo de a ver.
Se estivesse a ver a minha pela última vez, se estivesse a ver a minha pela última vez dizia:
Gosto de ti para sempre porque um segundo é coisa pouca.
Mas sei que esta não é a última e isso é bom.
Esta vez não é a última mas é como se fosse porque na última posso não ter oportunidade.
Vou amar-te quando não estiveres mas amar-te-ei mais quando estiveres comigo.
Porque não sei como será o fim e porque não quero saber, a partir deste dia, direi o amor a quem amo como faço a mim própria quando gosto muito de mim.
Gostar de quem está perto e é bom para mim é a segunda melhor maneira de ser bom para mim.
A primeira é gostar de mim como um beijo no espelho.
Nunca digo à minha mãe que a amo porque sei que ela sabe, mas como sei que ela gosta de ouvir digo à mesma como se não soubesse.
Nunca digo à minha filha que a amo porque sei que ela sabe, mas como sei que ela gosta de ouvir digo à mesma como se não soubesse.
O amor só se sabe quando se tem a certeza e para se ter a certeza é preciso dizê-lo e repeti-lo muitas vezes até se saber de cor.
O amor só sabe bem quando se sabe de cor.
Decorei isto para ti, mãe… espero que gostes.
Decorei isto para ti, filha… espero que gostes.

Texto do livro "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

quarta-feira, 14 de outubro de 2015




"Perfeito como as possibilidades"

Estas são as palavras que direi a mim própria quando precisar das palavras certas, repeti-las-ei nos dias bons para que as saiba de cor nos dias maus:
Levanta-te que a cama deixou de ser fofa no momento em que acordaste. Levanta-te com a vontade de quem quer fazer coisas até estar mais perto do que quer ser.
Levanta-te e procura uma coisa boa e sã para comer.
Depois lava-te até te sentires tão pura como sempre foste e serás.
Em seguida veste o mais perfeito que o dia deixar e pensa que este dia vai ser bom porque é hoje.
Este dia é bom porque é hoje.
E podes não ter vontade de viver e podes não ter vontade de sorrir, mas em vez disso tens de reserva as coisas boas que já fizeste e as coisas incríveis que estão por finalizar.
O antídoto para o peso de hoje é a força que sentias ontem.
Se alguma vez sentiste vontade isso é o precedente que te faz perceber que a vontade é criada por ti.
Se tudo isto te parecer falso tens razão.
Finge, finge, finge muito, finge bem, faz uma cena, uma grande cena, faz de conta que queres alimentar-te e vestir-te e lavar-te.
Faz de conta que queres sair de casa e trabalhar muito e com muita alegria.
Faz de conta que há sol e que chilreiam passarinhos rechonchudos enquanto atravessas a passadeira com o sinal a fechar.
Faz de conta que corre bem e que o mal é imaginário como as bruxas sem verrugas.
Abre hoje o precedente e se amanhã quiseres abre outro também.
Ama-te até andares mais rápido.
Adora-te até que pular seja altamente.
Admira-te como se te visses de cima quando voas e percebe que o que finges existe tanto como o que existe mesmo.
A diferença é o que tu queres e para os outros é indiferente.
Ninguém quer saber se sempre foste feliz ou se só começaste agora. O que interessa é que tenhas hoje forças para trabalhar por um mundo melhor.
E quando digo “por um mundo melhor” não digo o mundo todo.
Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me à tua casa, ao teu emprego, ao teu dia, à tua noite, à tua saúde, às tuas pessoas, às tuas tardes, à tua comida, aos teus ideais, à tua roupa, à tua louça, aos teus fins de tarde, às tuas madrugadas, aos teus jantares, às tuas noites cerradas, à tua chuva miudinha.
Quando digo “por um mundo melhor”… Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me ao teu mundo.
Isso mesmo, percebeste agora?
Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me ao teu mundo.
Sê realista, começa pelo teu mundo.
Amanhã será um dia melhor e poderás salvar mundos melhores.
Hoje é só um dia bom, terás que te contentar com este mundo que, depois do que te disse, se tornou perfeito como as possibilidades.
Atingir o que podemos é a perfeição.
Fazer o que a força pode é a única tarefa.
Trabalhares todos os dias de hoje é a tua maneira de pagares pelo ar que tens andado a gastar.
Faz o esforço que a tua paixão quiser e esforça-te por te apaixonares todos os dias.

Texto d' "O Manual da Felicidade" de João Negreiroshttps://www.facebook.com/joaonegreiros.paginaoficial/?fref=ts

terça-feira, 13 de outubro de 2015


"Mim"

O que acontecerá amanhã será decidido agora.
Venho, por este meio, dizer a mim próprio, sendo “mim próprio” eu num dia bom, que amanhã terei uma força inexplicável a mandar-me para onde me destinei.
Sou a marioneta da minha pessoa e o que decido para mim será obedecido porque, na verdade, os fios que me mexem os braços são puxados pelos meus braços, os fios que fazem andar as pernas são pontapeados pelas minhas pernas e o que pensarei é decido por turras no ar que darei hoje e que amanhã serão o que me fará marrar na direcção certa.
Em mim ninguém manda… perdão… em mim manda quem eu quero e quero mandar-me àquela parte com carinho porque aquela parte é onde quero estar, com quem quero estar e exactamente o que quero.
Está decidido, amanhã acordo mesmo a tempo de fazer tudo o que quero.
Está decidido, amanhã acordo e faço-me à vida como se ela já existisse antecipadamente.
E vejo-me amanhã exactamente como me quero hoje… e sinto já orgulho do que ainda não aconteceu, mas que acontecerá porque eu mando.

in “O Manual da Felicidade” de João Negreiros


segunda-feira, 12 de outubro de 2015



"O Golpe de vistas largas"

Gostava de saber o que se passa por baixo de ti.
Gostava de saber o que tens que te faz mexer. 
Gostava de saber que, para além do que és agora, tens o que vais ser.
Gostava de saber exactamente o que és e não só o que vejo.
Vejo tão mal ao longe.
Vejo tão mal ao longe porque pratico pouco.
Pratico pouco imaginar o que são os outros.
Seria tão bom olhar para ti e saber quem és para além da roupa que vestes, das coisas que dizes e do que dizem de ti.
Seria tão bom ver com certeza absoluta a beleza que cada um guarda em cofres de combinações impossíveis.
Até hoje a preguiça obrigou-me apenas a ver o óbvio mas o óbvio é uma superfície lustrosa onde escorregam os olhos até ter remelas que me tapam a visão.
Eu, a partir de agora, vou semicerrar os olhos se for preciso, vou esbugalhá-los se preciso for, vou fechá-los para ter a certeza, vou apagar a luz para poder apalpar, vou pôr as mãos atrás das costas até te saber o cheiro, vou ouvir-te para lá das palavras e vai saber-me bem ter-te em mim como quem percebe a verdade.
Gostava e agora gosto… e gosto porque tento… e tento porque quero… e quero porque é bom…
É bom poder amar o profundo porque para mergulhar na água é preciso saber se não há rochas ou corais nela.
Gostava e agora gosto.
Vejo em alta definição bem para lá de tudo o que distrai.
A beleza é tão nítida como os sentidos.

Texto d' "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Palestra "O Manual da Felicidade" - Universidade Sénior de Espinho

Dia 9 de Outubro, às 15h, João Negreiros dará uma palestra sobre "O Manual da Felicidade" no auditório da Junta de Freguesia de Espinho a convite da Universidade Sénior de Espinho.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015


"Aprende a falhar"

Falha um sonho e acorda de vez.
Falha um objectivo e corre com o cansaço.
Falha por muito e fica mais perto.
Falha por pouco para ficares quase onde queres.
Falha muito como faz quem percebe que ser alguma coisa passa por quase ser.
Falha a concretização como quem dá valor ao que constrói.
Falha um compromisso e encontra outra pessoa.
Falha o que está longe e cresce como quem se estica.
Falha como conseguem os outros.
Falha e saberás o valor todo quando deixares de o fazer.
Falha e diverte-te à distância.
Falha, falha, falha, falha.
Falha como quem aprende que tudo no Mundo precisou de tentativas para existir.

Texto d'"O Manual da Felicidade" de João Negreiros




segunda-feira, 5 de outubro de 2015


"Perfeito como as possibilidades"

Estas são as palavras que direi a mim própria quando precisar das palavras certas, repeti-las-ei nos dias bons para que as saiba de cor nos dias maus:
Levanta-te que a cama deixou de ser fofa no momento em que acordaste. Levanta-te com a vontade de quem quer fazer coisas até estar mais perto do que quer ser.
Levanta-te e procura uma coisa boa e sã para comer.
Depois lava-te até te sentires tão pura como sempre foste e serás.
Em seguida veste o mais perfeito que o dia deixar e pensa que este dia vai ser bom porque é hoje.
Este dia é bom porque é hoje.
E podes não ter vontade de viver e podes não ter vontade de sorrir, mas em vez disso tens de reserva as coisas boas que já fizeste e as coisas incríveis que estão por finalizar.
O antídoto para o peso de hoje é a força que sentias ontem.
Se alguma vez sentiste vontade isso é o precedente que te faz perceber que a vontade é criada por ti.
Se tudo isto te parecer falso tens razão.
Finge, finge, finge muito, finge bem, faz uma cena, uma grande cena, faz de conta que queres alimentar-te e vestir-te e lavar-te.
Faz de conta que queres sair de casa e trabalhar muito e com muita alegria.
Faz de conta que há sol e que chilreiam passarinhos rechonchudos enquanto atravessas a passadeira com o sinal a fechar.
Faz de conta que corre bem e que o mal é imaginário como as bruxas sem verrugas.
Abre hoje o precedente e se amanhã quiseres abre outro também.
Ama-te até andares mais rápido.
Adora-te até que pular seja altamente.
Admira-te como se te visses de cima quando voas e percebe que o que finges existe tanto como o que existe mesmo.
A diferença é o que tu queres e para os outros é indiferente.
Ninguém quer saber se sempre foste feliz ou se só começaste agora. O que interessa é que tenhas hoje forças para trabalhar por um mundo melhor.
E quando digo “por um mundo melhor” não digo o mundo todo.
Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me à tua casa, ao teu emprego, ao teu dia, à tua noite, à tua saúde, às tuas pessoas, às tuas tardes, à tua comida, aos teus ideais, à tua roupa, à tua louça, aos teus fins de tarde, às tuas madrugadas, aos teus jantares, às tuas noites cerradas, à tua chuva miudinha.
Quando digo “por um mundo melhor”… Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me ao teu mundo.
Isso mesmo, percebeste agora?
Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me ao teu mundo.
Sê realista, começa pelo teu mundo.
Amanhã será um dia melhor e poderás salvar mundos melhores.
Hoje é só um dia bom, terás que te contentar com este mundo que, depois do que te disse, se tornou perfeito como as possibilidades.
Atingir o que podemos é a perfeição.
Fazer o que a força pode é a única tarefa.
Trabalhares todos os dias de hoje é a tua maneira de pagares pelo ar que tens andado a gastar.
Faz o esforço que a tua paixão quiser e esforça-te por te apaixonares todos os dias.

Texto d' "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

sexta-feira, 2 de outubro de 2015



"Sabes-me bem"

Ontem um rissol de camarão deu-me um abraço sentido e no fim ofereceu-se para me levar a casa porque eu estava indisposta.
Quando cheguei, uma mousse de manga enviou-me uma sms a dizer que tinha muito orgulho em ter uma amiga como eu.
Acordei a meio da noite e não conseguia dormir e uma tablete de chocolate branco fez-me um chá de camomila, depois sentou os quadrados na cadeira em frente e falou-me da família e até combinámos de ir ao cinema.
Um pudim de ovos levou-me o carro à revisão. Uma embalagem inteira de torrão de alicante convidou-me para ir de fim-de-semana. Eu e o torrão de alicante fomos a Benidorm, por lá encontrámos uma piza familiar e o corredor das bolachas do Pingo Doce que ia numa viagem de final de curso.
Eu não tenho amigos, nem tenho família. Basta-me o afecto da comida que me faz mal.
Quando o meu pai liga atendo enjoada porque comi no bufete um croquete, e uma chamuça e um refrigerante.
Traí o meu marido com um pastel qualquer.
Abandonei os meus amigos, tínhamos combinado fazer coisas importantes mas fui fazer uma sobremesa. Fiquei tão carente de deixar os amigos longe que abracei a sobremesa até cair da mesa abaixo e vomitar o chão da cozinha todo até patinar.
Que é isto? O que é isto?
Porra, o que é isto? Eu não posso ser isto.
Eu sou mais do que isto! Eu sou muito mais do que isto! Eu sou outra coisa!
Eu sou aquilo. Eu tenho paixão pela comida que me faz má, gorda, doente e às manchas e não tenho pelo que devo?
Não tenho a quem devo?
Não tenho a quem devo?
Mas que merda é esta?
A partir deste momento tudo o que me faz mal passa também a saber-me mal.
A partir deste segundo tudo o que fizer mal ao meu corpo será rejeitado por mim que sou guardiã do que sou e do que quero ser.
O afecto que tinha pela gula e a gula que tinha pelo afecto vou dá-la toda, vou dá-la toda às pessoas que me fazem bem e às coisas que quero fazer.
Aprendi e ensinaram-me a gostar do que me fazia mal. Aprendi a gostar à conta disso. Só me falta gostar do que preciso. E preciso mesmo é de ti. Preciso de ti que és uma pessoa e me dás amor em troca de carinhos.
Sei que depois disto um gangue de sobremesas me esperará com correntes e pés de cabra mas não tem mal… eu sou corajosa.
Sei que depois disto um exército de fast-food far-me-á uma perseguição em plena auto-estrada mas não tem mal… eu sou corajosa.
Sei que depois disto receberei telefonemas anónimos ameaçadores a meio da noite feitos por um chocolate de culinária raivoso mas não tem mal… eu sou corajosa.
A verdade é que não preciso de açúcar a mais,
sou doce.
A verdade é que sou espirituosa,
não preciso de sal.
Vou pegar no conforto que sinto quando como,
vou pegar na paixão que sinto quando quero comer,
vou pegar na vontade que tenho quando mastigo e entregarei tudo a quem me faz bem à saúde.

Sabes… sabes… sabes-me… bem.

Texto de "O Manual da Felicidade" de João Negreiros