domingo, 24 de janeiro de 2016

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

terça-feira, 5 de janeiro de 2016



"Aprende a falhar"

Falha um sonho e acorda de vez.
Falha um objectivo e corre com o cansaço.
Falha por muito e fica mais perto.
Falha por pouco para ficares quase onde queres.
Falha muito como faz quem percebe que ser alguma coisa passa por quase ser.
Falha a concretização como quem dá valor ao que constrói.
Falha um compromisso e encontra outra pessoa.
Falha o que está longe e cresce como quem se estica.
Falha como conseguem os outros.
Falha e saberás o valor todo quando deixares de o fazer.
Falha e diverte-te à distância.
Falha, falha, falha, falha.
Falha como quem aprende que tudo no Mundo precisou de tentativas para existir.

Texto d'"O Manual da Felicidade" de João Negreiros

sábado, 2 de janeiro de 2016

"Agora" de João Negreiros



"Agora"

Ando farto de mim, farto de mim, farto. A minha vida é um puto dum frete pegado. Estou farto de tudo, de mim, de tudo. Farto como quem tem fome. Farto como quem não tem o que lhe falta. Farto como o que falta fazer. Deve haver coisas de que gosto com certeza, e pessoas de quem gosto com certeza, e sítios onde gosto de estar com certeza. Mas não sei o que são, não sei quem são, nem sei onde é.
Sou um carneiro. Eu sou um carneiro. Vou por onde mandam. Vou onde calha. Se eu soubesse exactamente as coisas de que gosto era feliz com elas agora, pegava nelas embevecido agora, rebolava com elas agora ficava horas especado a olhar para elas agora, mas não sei. Olho à volta e vejo tudo, mas em tudo não sei o que é. Aprendi a gostar de tudo e agora estou farto. Tudo é coisas a mais.
Se eu soubesse exactamente as pessoas de que gosto era feliz com elas agora, pegava nelas embevecido agora, rebolava com elas agora, ficava horas especado a olhar para elas agora, mas não sei. Olho à volta e vejo todas, mas de todas não sei quais são. Aprendi a gostar de todas e agora estou farto. Todas é gente a mais.
Se eu soubesse exactamente os sítios de que gosto era feliz neles agora, pégadas neles embevecido agora, rebolava neles agora, ficava horas especado a olhar para eles agora, mas não sei. Olho à volta e vejo todos, mas em todos não sei o que é são. Aprendi a gostar de todos e agora estou farto. Todos são sítios a mais. Tudo é demais. Todas são demais. Todos são demais.
Se me conhecesse e gostasse de me saber sabia o que me sabia bem, sabia o que era bom para mim. Paro o texto, o raciocínio, a auto-crítica, o bom, o mau, o mais e o menos. Paro o certo, o errado e descubro neste momento em mim as coisas que me fazem bem, as pessoas que me fazem bom e os sítios que me fazem homem.
É um momento eterno e instantâneo e só demora o que for preciso e muda agora a minha vida e o meu caminho. E é tão nítido. E é tão óbvio.
Como é que eu nunca tinha pensado nisto, neste, aqui? Como é que eu nunca pensei nisto, nesta, ali? Penso agora e é tão fácil. Agora conheço-me. Um homem só se conhece verdadeiramente quando sabe exactamente o que o faz feliz. Tornei-me num agora.
Foi mesmo agora. Foi mesmo agora.

in "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

Texto do livro "O Manual da Felicidade" de João Negreiros
Interpretação: João Negreiros
Edição de som: Miguel Guerra
Edição de imagem: Ana Catarina Miranda
Co-produção: Bolor Teatro e Teatro Universitário do Minho
Apoios: Instituto Português do Desporto e da Juventude; Universidade do Minho; Associação Académica da Universidade do Minho; Centro de Pesquisa e Interacção Cultural

www.omanualdafelicidade.com
http://joaonegreiros.blogspot.com


"Perfeito como as possibilidades"

Estas são as palavras que direi a mim própria quando precisar das palavras certas, repeti-las-ei nos dias bons para que as saiba de cor nos dias maus:
Levanta-te que a cama deixou de ser fofa no momento em que acordaste. Levanta-te com a vontade de quem quer fazer coisas até estar mais perto do que quer ser.
Levanta-te e procura uma coisa boa e sã para comer.
Depois lava-te até te sentires tão pura como sempre foste e serás.
Em seguida veste o mais perfeito que o dia deixar e pensa que este dia vai ser bom porque é hoje.
Este dia é bom porque é hoje.
E podes não ter vontade de viver e podes não ter vontade de sorrir, mas em vez disso tens de reserva as coisas boas que já fizeste e as coisas incríveis que estão por finalizar.
O antídoto para o peso de hoje é a força que sentias ontem.
Se alguma vez sentiste vontade isso é o precedente que te faz perceber que a vontade é criada por ti.
Se tudo isto te parecer falso tens razão.
Finge, finge, finge muito, finge bem, faz uma cena, uma grande cena, faz de conta que queres alimentar-te e vestir-te e lavar-te.
Faz de conta que queres sair de casa e trabalhar muito e com muita alegria.
Faz de conta que há sol e que chilreiam passarinhos rechonchudos enquanto atravessas a passadeira com o sinal a fechar.
Faz de conta que corre bem e que o mal é imaginário como as bruxas sem verrugas.
Abre hoje o precedente e se amanhã quiseres abre outro também.
Ama-te até andares mais rápido.
Adora-te até que pular seja altamente.
Admira-te como se te visses de cima quando voas e percebe que o que finges existe tanto como o que existe mesmo.
A diferença é o que tu queres e para os outros é indiferente.
Ninguém quer saber se sempre foste feliz ou se só começaste agora. O que interessa é que tenhas hoje forças para trabalhar por um mundo melhor.
E quando digo “por um mundo melhor” não digo o mundo todo.
Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me à tua casa, ao teu emprego, ao teu dia, à tua noite, à tua saúde, às tuas pessoas, às tuas tardes, à tua comida, aos teus ideais, à tua roupa, à tua louça, aos teus fins de tarde, às tuas madrugadas, aos teus jantares, às tuas noites cerradas, à tua chuva miudinha.
Quando digo “por um mundo melhor”… Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me ao teu mundo.
Isso mesmo, percebeste agora?
Quando digo “por um mundo melhor” refiro-me ao teu mundo.
Sê realista, começa pelo teu mundo.
Amanhã será um dia melhor e poderás salvar mundos melhores.
Hoje é só um dia bom, terás que te contentar com este mundo que, depois do que te disse, se tornou perfeito como as possibilidades.
Atingir o que podemos é a perfeição.
Fazer o que a força pode é a única tarefa.
Trabalhares todos os dias de hoje é a tua maneira de pagares pelo ar que tens andado a gastar.
Faz o esforço que a tua paixão quiser e esforça-te por te apaixonares todos os dias.

Texto d' "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016




"Novo uso ao ar"

Perder a vontade
é nunca estar atento
é ganhar toda a idade

perder todo o alento

perder a ilusão
fugir às arrecuas
é perder paixão
é passear sem as ruas

continuar é o novo começo
o perseverante inventou o progresso
querer acordar é uma coisa sem preço
se sonho o amanhã a dormir enriqueço

e acreditar que há por que voar
é dar um caminho e novo uso ao ar

in "Livro de Canções do Manual da Felicidade" de João Negreiros