segunda-feira, 12 de outubro de 2015



"O Golpe de vistas largas"

Gostava de saber o que se passa por baixo de ti.
Gostava de saber o que tens que te faz mexer. 
Gostava de saber que, para além do que és agora, tens o que vais ser.
Gostava de saber exactamente o que és e não só o que vejo.
Vejo tão mal ao longe.
Vejo tão mal ao longe porque pratico pouco.
Pratico pouco imaginar o que são os outros.
Seria tão bom olhar para ti e saber quem és para além da roupa que vestes, das coisas que dizes e do que dizem de ti.
Seria tão bom ver com certeza absoluta a beleza que cada um guarda em cofres de combinações impossíveis.
Até hoje a preguiça obrigou-me apenas a ver o óbvio mas o óbvio é uma superfície lustrosa onde escorregam os olhos até ter remelas que me tapam a visão.
Eu, a partir de agora, vou semicerrar os olhos se for preciso, vou esbugalhá-los se preciso for, vou fechá-los para ter a certeza, vou apagar a luz para poder apalpar, vou pôr as mãos atrás das costas até te saber o cheiro, vou ouvir-te para lá das palavras e vai saber-me bem ter-te em mim como quem percebe a verdade.
Gostava e agora gosto… e gosto porque tento… e tento porque quero… e quero porque é bom…
É bom poder amar o profundo porque para mergulhar na água é preciso saber se não há rochas ou corais nela.
Gostava e agora gosto.
Vejo em alta definição bem para lá de tudo o que distrai.
A beleza é tão nítida como os sentidos.

Texto d' "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

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