terça-feira, 29 de setembro de 2015



"A felicidade é um exercício de constante improvisação"

Todos os dias somos pessoas diferentes.
Todos os dias são dias diferentes. 
Todos os diferentes são iguais todos os dias.
A felicidade precisa de existir potencialmente de forma diferente mesmo que termine sendo a mesmíssima coisa de ontem.
As coisas que existem hoje exigem uma apropriação e uma adaptação que só o dia de hoje tem.
Por isso, para tudo o que há, tenho eu uma resposta e essa resposta sou eu a respirar o fôlego que tenho. O fôlego que tenho não depende do cansaço que já tive mas das forças que estou a recuperar.
A felicidade é um exercício de improvisação e é tão melhor o exercício quanto mais ou menos caminhos houver. Digo mais ou menos porque, na verdade, não sei bem se são mais ou menos porque a felicidade é uma espécie de eira, uma espécie de limbo, uma espécie de purgatório em bom.
Ser feliz é só uma questão de não saber o caminho antes de dar o passo e ter no primeiro passo o caminho certo.

Texto do livro "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

segunda-feira, 28 de setembro de 2015




"O Golpe de vistas largas"

Gostava de saber o que se passa por baixo de ti.
Gostava de saber o que tens que te faz mexer.
Gostava de saber que, para além do que és agora, tens o que vais ser.
Gostava de saber exactamente o que és e não só o que vejo.
Vejo tão mal ao longe.
Vejo tão mal ao longe porque pratico pouco.
Pratico pouco imaginar o que são os outros.
Seria tão bom olhar para ti e saber quem és para além da roupa que vestes, das coisas que dizes e do que dizem de ti.
Seria tão bom ver com certeza absoluta a beleza que cada um guarda em cofres de combinações impossíveis.
Até hoje a preguiça obrigou-me apenas a ver o óbvio mas o óbvio é uma superfície lustrosa onde escorregam os olhos até ter remelas que me tapam a visão.
Eu, a partir de agora, vou semicerrar os olhos se for preciso, vou esbugalhá-los se preciso for, vou fechá-los para ter a certeza, vou apagar a luz para poder apalpar, vou pôr as mãos atrás das costas até te saber o cheiro, vou ouvir-te para lá das palavras e vai saber-me bem ter-te em mim como quem percebe a verdade.
Gostava e agora gosto… e gosto porque tento… e tento porque quero… e quero porque é bom…
É bom poder amar o profundo porque para mergulhar na água é preciso saber se não há rochas ou corais nela.
Gostava e agora gosto.
Vejo em alta definição bem para lá de tudo o que distrai.
A beleza é tão nítida como os sentidos.

in "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

sábado, 26 de setembro de 2015


Texto do livro "O Manual da Felicidade" de João Negreiros
Interpretação: João Negreiros
Guitarras e Composição: Zé Pedro Ribeiro; 
Edição de som: Jorge Cunha - LM Studio
Edição: Ana Catarina Miranda
Co-produção: Bolor Teatro e Teatro Universitário do Minho
Apoios: Instituto Português do Desporto e da Juventude; Universidade do Minho; Associação Académica da Universidade do Minho; Centro de Pesquisa e Interacção Cultural

O Golpe de vistas largas

Gostava de saber o que se passa por baixo de ti.
Gostava de saber o que tens que te faz mexer.
Gostava de saber que, para além do que és agora, tens o que vais ser.
Gostava de saber exactamente o que és e não só o que vejo.
Vejo tão mal ao longe.
Vejo tão mal ao longe porque pratico pouco.
Pratico pouco imaginar o que são os outros.
Seria tão bom olhar para ti e saber quem és para além da roupa que vestes, das coisas que dizes e do que dizem de ti.
Seria tão bom ver com certeza absoluta a beleza que cada um guarda em cofres de combinações impossíveis.
Até hoje a preguiça obrigou-me apenas a ver o óbvio mas o óbvio é uma superfície lustrosa onde escorregam os olhos até ter remelas que me tapam a visão.
Eu, a partir de agora, vou semicerrar os olhos se for preciso, vou esbugalhá-los se preciso for, vou fechá-los para ter a certeza, vou apagar a luz para poder apalpar, vou pôr as mãos atrás das costas até te saber o cheiro, vou ouvir-te para lá das palavras e vai saber-me bem ter-te em mim como quem percebe a verdade.
Gostava e agora gosto… e gosto porque tento… e tento porque quero… e quero porque é bom…
É bom poder amar o profundo porque para mergulhar na água é preciso saber se não há rochas ou corais nela.
Gostava e agora gosto.
Vejo em alta definição bem para lá de tudo o que distrai.
A beleza é tão nítida como os sentidos.


in "O Manual da Felicidade" de João Negreiros