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Quando chegar o fim do mundo vamos ter tempo para tudo: para beijar a mãe na cara, o filho nas mãos, a mulher nos lábios e a amante na boca.
Quando chegar o fim do mundo vamos fazer libações e buscar no fundo das nossas casas as garrafas mais antigas para a bebedeira mais recente. E vamos festejar… e dizer tudo o que queremos às pessoas que não gostamos, mas quando estivermos perto delas a dizer-lhes o que não querem ouvir até vamos mudar de opinião porque, à luz da morte antecipada, os inimigos vão-nos parecer a bondade em pessoa… que está quase no fim.
E o dinheiro vai ter prazo de validade, e o poder também, e o amor será eterno até determinada hora, e ninguém vai querer dormir… nem as mães que adormecem a contar a história do mundo às crianças que nasceram agora.
Quando chegar o fim do mundo iremos pela última vez ao jardim zoológico para libertar os animais… e depois olhar para as jaulas vazias e pensar que a jaula maior vai deixar de existir porque vai implodir como uma melancia que se recusou a apodrecer e quis sair em beleza, vertendo-se pela cara dos que a queriam comer.
E quando os céus ficarem vermelhos como as mãos que apertamos, quando os céus ficarem tintos como o vinho que bebemos… vamos erguer as taças e gritar tudo o que ficou por fazer. E, no meio da explosão que nos dizima o corpo, tudo é finalmente verdadeiro e estamos realmente unidos, ainda que uns tenham preferido o pico de uma montanha ou o canto de um bunker. Todos temos os punhos cerrados, os braços a tapar a cara, o corpo encolhido, o olhar do pânico, a boca seca, a vida por um fio, as mãos suadas, um grito anunciado e uma eterna vontade de suicídio por não termos escolhido o fim… mas por alguém o ter escolhido por nós.
E agora que não estamos cá para destruir tudo o que nos rodeia… tudo o que existia só para estar à nossa volta desapareceu também. E como derradeiro lamento deixamos para trás a esperança de termos morrido apenas nós… e não todos. E queremos que os que ficaram sejam felizes… e esqueçam o nosso rosto e a nossa maldade para que vivam todos os dias celebrando o primeiro que vai ser amanhã… porque o hoje já se foi e esta data no calendário será para sempre lembrada como o dia em que me mataram, a mim, que estava a mais e a impedir o mundo de ser perfeito.
in "luto lento", de João Negreiros
[hesito na importância das ruínas, até porque até da matéria orgânica da palavra pode renascer outra parte solar, o outro lado avesso da expressão temporal]
ResponderEliminarum imenso abraço deste lado do quintal
Leonardo B.
Excelente!
ResponderEliminarParabéns por este grande poema.
ResponderEliminarBelíssimo e extremamente verdadeiro.
ResponderEliminarEstou feliz por ter descoberto seu blog e por conhecer pessoa com essa visão.
Novamente me inspiraste a escrever...
Covarde Opção
Um tapa na cara
quiseram me dar
Um tiro no escuro
e eu morta de medo
Em cima do muro
sem saber de que lado ficar
A visão daqui é perfeita e cômoda
Posso os dois lados vislumbrar
Mas qual escolher?
E pra que a escolha?
Se posso apenas aqui ficar
e me omitir e me negar
a uma postura assumir
Talvez melhor seja fugir
pra bem longe dessa loucura
ao invés de ficar e procurar a cura
pra todo esse mal que assola
Mas "uma andorinha só não faz verão"
e eu não quero apodrecer na prisão
engaiolada por tentar ser livre
Fico aqui então, por opção
Por falta de coragem, por medo
Por temer descobrir o segredo
que posso ver revelado,
deste ou daquele lado.
Postarei no meu blog, com as devidas homenagens.
Obrigada.
Beijos.
Ianê Mello
Oi, não vou poder postar enquanto voêe não aceitar, pois esqueci de salvá-lo.
ResponderEliminarAguardo, então.
Bjs.
Há momentos,em que enquanto ouço uma musica,uma voz,ou vejo uma paigagem bela, todos os meus sentidos reagem, todo o meu corpo se entrega. E sinto algo que é físico, quando os pêlos dos braços se levantam e um arrepio marca aquele momento na minha memória.Acabei de sentir estas mesmas sensações.Mais uma vez estou grata por a Beleza vir sempre ter comigo de alguma forma.
ResponderEliminarquando chegar o fim do mundo, cai o véu da humanidade.
ResponderEliminarmuito bonito, joão.
helena isabel
k cena... Deve ser mt complicado estas coisas.
ResponderEliminarA gente perde tempo com desculpas para não viver a sério...k cena, olha gostei mas é bué triste para mim. Não desistas nunca.
Gil Gomes