sábado, 26 de setembro de 2015


Texto do livro "O Manual da Felicidade" de João Negreiros
Interpretação: João Negreiros
Guitarras e Composição: Zé Pedro Ribeiro; 
Edição de som: Jorge Cunha - LM Studio
Edição: Ana Catarina Miranda
Co-produção: Bolor Teatro e Teatro Universitário do Minho
Apoios: Instituto Português do Desporto e da Juventude; Universidade do Minho; Associação Académica da Universidade do Minho; Centro de Pesquisa e Interacção Cultural

O Golpe de vistas largas

Gostava de saber o que se passa por baixo de ti.
Gostava de saber o que tens que te faz mexer.
Gostava de saber que, para além do que és agora, tens o que vais ser.
Gostava de saber exactamente o que és e não só o que vejo.
Vejo tão mal ao longe.
Vejo tão mal ao longe porque pratico pouco.
Pratico pouco imaginar o que são os outros.
Seria tão bom olhar para ti e saber quem és para além da roupa que vestes, das coisas que dizes e do que dizem de ti.
Seria tão bom ver com certeza absoluta a beleza que cada um guarda em cofres de combinações impossíveis.
Até hoje a preguiça obrigou-me apenas a ver o óbvio mas o óbvio é uma superfície lustrosa onde escorregam os olhos até ter remelas que me tapam a visão.
Eu, a partir de agora, vou semicerrar os olhos se for preciso, vou esbugalhá-los se preciso for, vou fechá-los para ter a certeza, vou apagar a luz para poder apalpar, vou pôr as mãos atrás das costas até te saber o cheiro, vou ouvir-te para lá das palavras e vai saber-me bem ter-te em mim como quem percebe a verdade.
Gostava e agora gosto… e gosto porque tento… e tento porque quero… e quero porque é bom…
É bom poder amar o profundo porque para mergulhar na água é preciso saber se não há rochas ou corais nela.
Gostava e agora gosto.
Vejo em alta definição bem para lá de tudo o que distrai.
A beleza é tão nítida como os sentidos.


in "O Manual da Felicidade" de João Negreiros   

1 comentário:

  1. Há muito que acompanho as palavras, as tuas palavras. Palavras às quais dás o teu ser, a vida que lhes criaste (à luz de quem foste ou de quem és).
    Há muito que ouço o som que elas têm para ti, quando as reproduzes.
    Há muito que quero comentar, mas que deixo para depois. Talvez por medo que as minhas palavras não sejam suficientes para mostrar o que sinto, quando me encontro com as tuas palavras.
    Hoje deixei esses receios de lado e resolvi oferecer-te as minhas palavras de agradecimento.
    E hoje é só isto que tenho para dizer.
    Este é o meu presente!

    Grata pelos ‘presentes’ que tens criado e partilhado com quem gosta de palavras!

    Um abraço!

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