segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O sofrimento dos outros para mim não existe

A inveja é uma coisa muito feia.
O medo da inveja é uma coisa muito feia.
A inveja de uma coisa linda é uma coisa muito feia.
A fealdade de uma coisa bela é uma coisa muito feia.
O medo de uma coisa linda é uma coisa muito feia.
Partilhar uma coisa linda é uma coisa muito linda.
Partilhar uma coisa feia é uma coisa muito feia.
Partilhar uma coisa linda com uma pessoa que gosta de coisas feias é uma coisa muito linda mesmo que a pessoa que gosta de coisas feias ache partilhar coisas lindas uma coisa muito feia.
Ser solidário com quem está mal não é pôr-me mal por solidariedade.
Ser solidário com quem está mal é impedir-lhe a maldade e levá-lo a ver o Sol.
Ser bondoso para quem está mal é dar-lhe o oposto, mesmo que pareça cruel.
A maneira que o homem tem de ser melhor é olhar para o homem melhor, depois imaginar-se a si melhor e por fim estar melhor como o outro que era melhor no início mas que ficou igual por fim. Com as mulheres é igual.
Se as nossas coisas lindas fizerem mal a alguém isso é sinal que há pessoas que confundem lindo com feio, bom com mau e solidariedade com festinhas.
Impor a nossa felicidade aos outros não existe porque a felicidade é uma obrigação que se deve adquirir quando se nasce. Não somos obrigados a amar quem não se gosta. Não é obrigatório carpir as mágoas dos outros como se fossem nossas porque as mágoas dos outros não existem.
O que os outros sofrem não existe e isso pode parecer cruel, e se calhar até é mas para mim não é.
Eu nunca sofrerei por ninguém mas prometo amar quem sofre até que pare de sofrer. Sempre que um triste, um invejoso, um desgraçado, um miserável, um caprichoso, uma carpideira, um céptico, um adorador iconoclasta do demo, um suicida, um pobre de espírito, um vilão, um herói que deu para o torto, um mesquinho, uma frígida… sempre que um mau quiser que sofra com ele, sempre que o mal quiser que sofra por ele eu vou amá-lo tanto… mas tanto… eu vou rir-me tanto… mas tanto… eu vou apaixonar-me tanto… mas tanto… eu vou acarinhá-lo tanto… mas tanto… eu vou dizer bem de mim e de tudo tanto… mas tanto… eu vou ser tão tremendamente feliz… mas tão tremendamente tanto que o Mundo será melhor para mim. Sendo o Mundo melhor para mim e sendo o meu Mundo o único que vejo terei para sempre um filtro da minha cor estampado com as minhas conquistas mesmo à frente de quem anda mal com tudo.

O sofrimento dos outros para mim não existe porque se existisse era também o meu e quando sofro pelos outros perco forças para os querer bem. E quero-lhes tanto… mas tanto… E quero-lhes tanto… mas tanto… E quero-lhes tanto… mas tanto…

Texto de "O Manual da Felicidade" de João Negreiros 

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