segunda-feira, 21 de abril de 2014

Excerto d' "O Sol Morreu Aqui"

Há pessoas sãs que acreditam em cada coisa! E há pessoas desvairadas que acreditam em coisas lindas e exactas. E há pessoas sãs de cabeça e de corpo que não acreditam em nada, nem no ar, nem nos bichos, nem nos corpos, nem em nada. Todos têm medo da estranha por estar a começar a deixar de o ser, mas o contrário é a tristeza. É melhor a desgraça ou a tragédia que a tristeza. Na tristeza não acontece nada. Na desgraça ou na tragédia ainda a gente se entretém.
A Lúcia filha, que é para todos Lu, diz juntando-se à festa:
- Se a Dona Noémia não se importa eu não me importo e se a Vera quer tanto acho que devíamos tratar dos papéis para termos a Dona Noémia como avó.

E agora está também a Lu senil e a senilidade em idades tão jovens é a verdade e, por isso, todos se tranquilizam e entram na festa apesar de só haver chá preto, bolacha Maria, bolacha torrada e compota a compor tudo aquilo.


Excerto do livro “O Sol Morreu Aqui” vencedor do prémio literário internacional Dias de Melo de 2012. 

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