sexta-feira, 25 de outubro de 2013

É tudo meu

Um sítio é um sítio.
Um sítio terá eternamente o mesmo paradeiro.
Um sítio não pode comprar bilhetes de comboio ou tirar carta de condução porque um sítio não tem vontade de estar noutro lado.
Os sítios não são piores por eu estar lá nem fazem algo para me receber.
Quando eu chego a um sítio ele recebe-me permanecendo.
A maneira que um sítio tem de me saudar é ser a mesmíssima coisa.
Um sítio tem o significado que eu lhe dou. Um sítio não sabe o que é um significado porque um sítio não pensa.
Eu escolho o que representam os sítios por onde passo. Eu escolho o que significam os locais por onde vou e por isso escolho, a partir de hoje, estar em casa para todo o sempre.
A partir de hoje respirarei em todos os lugares como respiro em casa. A partir de hoje vou sorrir, e falar, e comer, e gostar, e vencer, e existir como faço em casa.
O que um sítio me diz sem falar é isto:
- Põe-te à vontade. Faz como se estivesses em casa. É como for melhor para ti. Faz como te der mais jeito… e se precisares de alguma coisa já sabes… estou à tua disposição. Queres que te vá buscar umas pantufas?
No outro dia pensei em sítios que me fizeram mal e depois percebi a tremenda injustiça, a tremenda mentira. Nunca uma árvore me lançou um sorriso irónico. Nunca uma vedação insultou a minha mãe. Nunca um caixote do lixo me disse que estava feio. Nunca um poste me disse que devia desistir. Nunca uma linha pintada no chão se riu de mim e nunca uma rede me disse que eu não seria capaz.
Fui toda a vida tremendamente cruel com alguns sítios por onde fui mas agora chega. Agora tenho os ouvidos preparados para ouvir os verdadeiros significados e os sítios falam comigo e dizem-me a verdade. A verdade é a que eu decido, a verdade é a que eu escolho, a verdade é a que eu quero.
E de um momento para o outro todos os locais do mundo por onde passo torcem por mim… e até se mexem por mim quando a Terra gira. E quando chego ouço o que a minha cabeça mandou aos ouvidos.
E os galhos da árvore aplaudem-me com o vento. E a vedação chia um elogio daqueles que nos fazem inventar forças. E o caixote do lixo olha para mim e fica mudo com a admiração. E o poste diz-me que lute. E a linha pintada no chão indica-me o caminho certo. E a rede diz que é possível tudo o que eu quiser… e eu quero tudo… e tudo é muita coisa.
E a partir deste momento todos os sítios são casas, e todos os lugares são o meu mundo, e todas as coisas, e objectos e espaços são testemunhas do meu caminho que só pode ser de triunfo porque é escolhido por mim.
Para mim escolho o melhor e até mudar de planeta é tudo meu. Para mim escolho o melhor e até mudar de planeta é tudo meu.

Texto d' "O Manual da Felicidade" de João Negreiros 


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