segunda-feira, 9 de abril de 2012

"redondo como um quase perfeito" - poema musicado



redondo como um quase perfeito


trocar tudo por ti
como se te pertencesse
trocava tudo por ti
o que tenho e o que viesse

dava-me sem o pudor da vergonha
roía-me a pele para te tricotar um baile
dava-te tudo       ficava com a peçonha
e o que tenho de bom podias usar num xaile

leva-me os dedos do pianista
e as mãos da construção civil
rouba-me do cabelo a crista
e           já que João           leva-me o til

sem te ver fico bruto e fero
partes levando-me carne sincera
as virtudes sozinho são o que não quero
tenho uma sala só para a tua espera

e se não te vir nunca mais
nunca mais a mim me vejo
sou pequeno e nem chego aos pedais
mas escalo por ti para um beijo

cego orado como monge
dei-te pernas que levaste a correr
braços meus treparam-te o alto que é longe
e esqueci como se ia aí ter

mas fica-me a dor
a dor mantém-me vivo
é que morrer só de amor
não é bem um castigo

e podia terminar redondo
mas o melhor é o que escondo
ainda trago um gole de saliva
e palavras rudes como expectativa

resta o que nunca se espera
sem saber deste-me a paixão
o carinho verte-me da mão
e vale mais que a carne sincera

e é soro que me alimenta os dias
e sou belo           belo           belo           só com o que tu não querias

magnífico como só o enjeitado
perfeito como o que sobrava
o pasto ama mesmo o gado
porque lhe lambe a erva brava


Poema do livro "o amor és tu" de João Negreiros, 
à venda em livrarias e em http://www.saidadeemergencia.com

2 comentários:

  1. Gosto muito dos poemas João, parabéns!
    Convido-te a visitares a minha exposição de pintura e poesia " Pinto palavras" na livraria Centésima Página em Braga
    beijinhos
    e lembraste do texto que escrevi da Lua?
    que tu gostaste? foi dedicado a ti:)

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  2. Estou sem palavras João... algo mto extraordinário a meu ver, claro, existe neste poema, parabéns

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