a beleza
a beleza não me faz bem
mas faz-me falta
a beleza não me faz bem
mas faz-me
a beleza não faz
a beleza não faz bem
a beleza falta-me
a beleza dizima criaturas
dá-lhes a imortalidade de quem não sabe que está a morrer
a beleza mostra-nos o que quase fomos
a beleza ensina-nos a cartilha do fracasso
a beleza mostra-nos o melhor lado para nos deixar com o outro a
[seguir
a beleza não é uma pessoa
a beleza é todas
a beleza não dá nada
a beleza só oferece
a beleza quer-se aos poucos
a beleza ofusca
a beleza está nas reentrâncias de todos os corpos
a beleza está em algumas canções
a beleza está nos ouvidos das canções
a beleza nunca se ri
a beleza é imparcial
a beleza faz-nos chorar mais
a beleza não é para todos
a beleza é só para alguns
a beleza é democrática
a beleza não é coerente
a beleza é relativa
a beleza ou está ou não está
a beleza morre a cada segundo
a beleza nasce sempre
a beleza faz desenhos no vidro embaciado
a beleza dá-se bem com toda a gente
a beleza não quer nada com algumas pessoas
a beleza está em todo o lado
a beleza está a todo o momento
a beleza existe
a beleza
a beleza
a beleza é deitares-te comigo no preciso momento em que eu existo
[para podermos olhar-nos durante o fim do resto dos dias
a beleza faz-me compreender a efemeridade e a falta de inteligência
[do sofrimento
a beleza é simples
a beleza usa os invólucros como pessoas
a beleza permanece no momento em que vai e vem
a beleza é a procura
a beleza é só a procura
a beleza só é a procura
a beleza a sós procuras
a beleza gosta do vento
a beleza não usa cabelo
a beleza foi feita por quem?
a beleza foi descoberta
a beleza impede-me de sentir as mãos no Inverno
não isso é o frio
a beleza usa-me
a beleza usa-me e eu gosto
a beleza usa-me e eu não gosto
a beleza queria que o mundo fosse de determinada maneira mas o
[mundo teima em ser de determinada maneira
a beleza é a nossa mãe
a beleza é as nossas mães
a beleza usa camisolas de gola alta
a beleza não está na moda
a beleza não está decorada
a beleza?
ninguém a sabe
a beleza ofusca
suga
serve
santa
sina
sede
some
segue
a beleza é o equívoco
a beleza é a maneira que arranjámos de dizer que vale a pena lavar
[os dentes
arranjar as unhas
tomar banho
tratar dos filhos
passar fome
passar a ferro
malhar o ferro
correr com bolhas
lavrar com calos fora dos sulcos
viver dois dias para além do tempo
ir para a cama com o patrão
andar de eléctrico
saltar de um penhasco
seguir um líder
fazer um brinde
criar o gado
rasgar o céu
limpar o soalho
dar um tempo
trabalhar para o Estado
seguir um ideal
fazer um jogo
dar lá um salto
ser funcionário das finanças
arremessar um calhau para longe
puxar os cabelos a um pulha
comer a sopa
ir por um atalho
conhecer o príncipe
ir àquele concerto
calhar bem
sentir o cheiro do outro
calhar mal
casar por dinheiro
merecer a prenda
levar a melhor
subir na vida
lavar escadas
o toiro pelos cornos
a pata na poça
o brilho da manhã
e começar de novo
a beleza é começar de novo
a beleza é começar de novo
a beleza é começar de novo
A beleza é ler-te
ResponderEliminarA beleza é ouvir-te
Tu és beleza.
PARABENS e obrigada
Um grande poeta do mundo.
ResponderEliminarObrigado por sua arte imensa e por ser meu amigo.
Abraço do Joao Galante.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEste poema é extraordinário!Bem como a tua obra!"Conheci-te"à pouco através de uma amiga do TUM, aqui à uns dias ela emprestou-me para ler um livro teu, disse-me com um ar extasiado que tinha sido dos melhores livros que tinha alguma vez lido na vida, claro que fiquei a pensar que era excessivo dela, normalmente ela fala assim quando fala dos teus textos!E comecei então a ler "O mar que a gente faz"! E li num dia inteiro! Li, li, li...porque me envolveu completamente! A voz do Sargo é-me tão familiar, é tão perfeita a sua escrita que quando lemos este livro estamos lá, é poesia em conto! É sublime a forma como nos toca.
ResponderEliminarEmocionante! Gostava imenso de lhe poder descrever com mais intensidade a forma como me tocou toda a história que envolve o Sargo, a Linda, O Nelson, e o Lito, claro está o Nelo, só sei que me fez rir, chorar, enternecer!Arrepiar, revoltar! Tudo! O final não se pode contar aos que ainda não leram, é muito bonito, muito poderoso! Muito mesmo. Este livro é um livro muito corajoso!
O João é o maior escritor actual!O João vai além do humano! Bastou-me ler este livro para saber que é! Entretanto já comprei "Luto lento" e "A verdade dói e pode estar errada"! e devoro-os sempre que posso, a sua escrita foi feita milagrosamente para nos amadurecer, para nos tornar melhores pessoas!
Parabéns João Negreiros!
Obrigada pelos textos fabulosos e magníficos que nos dás a conhecer.
Amália Alberto
A beleza é ter um filho como tu. A tua mãe. Todas as mães.Obrigada João
ResponderEliminarQue poema espectáculo! Parece que já estou a fazer o filme todo, com imagens mesmo altamente que sugere! Que cena bué de linda!
ResponderEliminarAltamente, adorei mesmo este poema!
A beleza é tudo!
É brutal! Só sei dizer isso, é como se estivesse a correr, a tentar descrever o que é a beleza, é estar em todo o lado, como num labirinto onde se vê tudo o que todos fazem! É mesmo muito cool, cheio de energia e de vida!
Nunca pensei que poesia pudesse ser tão fixe!=)
És mesmo fixe!!
Raquel Mx
João Negreiros é só o maior poeta e escritor de todos os tempos. Qual Fernando Pessoa, o João passa-lhe a perna exactamente com uma perna às costas. Aliás, nunca percebi muito bem o mito "Fernando Pessoa"...pronto até tem uma coisa ou outra comestíveis, mas tem coisas escabrosamente más. Infelizmente, o povo português tem a capacidade de gostar daquilo que nem sabe se gosta. De qualquer forma, desejo-lhe muito sucesso e força para continuar a escrever. Nós cá esperamos pelas suas pérolas.
ResponderEliminarUm grande abraço.
Finalmente o panorama da poesia em Portugal começa a ganhar alguma inteligibilidade. Felizmente existes.
ResponderEliminarParabéns pelo teu percurso e força.
Cara Lisa,
ResponderEliminarEu nunca passaria a perna a Fernando Pessoa. Os grandes poetas devem ser respeitados. Fico muito lisonjeado com as palavras que escreveu sobre mim mas, sinceramente, acho-as excessivas. Fernando Pessoa é um património da humanidade e escreveu inúmeras coisas que são bem mais do que comestíveis, pois são extraordinárias.
Muito obrigado pela força e pelo carinho.
Desculpem a intromissão, mas é normal que o leitor ao ler a tua obra, e se tiver acesso aos livros que eu tenho,"Luto Lento", "O cheiro da sombra das flores","A verdade dói e pode estar errada", e mesmo o teu conto "O mar que a gente faz"
ResponderEliminarentenda que o género poético é muito mais forte, profundo, ínfimo, que aquilo que o expoente da poesia portuguesa no tempo dele foi. Terminei de ler o "Luto Lento" e estou como que anestesiada com a capacidade rara que tem de poema para poema ser tão diferente o registo, tão completo, cada poema é um tratado ou uma confissão, é um livro intenso,duro no sentido de nos tocar na ferida, e o facto Fernando Pessoa foi um grande poeta, que escreveu excelentes textos na voz de Álvaro de Campos e de Alberto Caeiro também, textos como "Aniversário","Tabacaria", "ode triunfal", Metafisica" entre outros que marcam o leitor.
Mas não querendo entrar aqui em competições, porque não é disso que se trata, as obras de João Negreiros mencionadas tem relevo na literatura portuguesa, são inegáveis, poemas como "ode ao filho da puta", "A vida andar para trás","A mãe","Quais são as probabilidades", "Quando chegar o fim do mundo", "Nova teoria da evolução", Eu tou n´Ásia","Morreu alguém e não sei quem é","Queda livre","A claque", A beleza", "As vozes que o chão me diz","o búfalo","os olhos","O amoral da história","Quarto crescente", "tu messias mais","é agora que os mato", "o Outono visto pela janela", "o murro", "Até amanhã", bem uma infinidade e todos estes são de dois livros apenas, , e até é injusto esta enumeração que faço, pois não quero comparar com ninguém,nem contigo, mas apenas dizer que os teus poemas tem uma força, marcam as pessoas, mudam as pessoas, e aí é que está a riqueza das vozes subtis deste poeta, se é assim que posso chamar, nem sei.O João Negreiros não tem heterónimos porque és todos, quando escreves.
Isso sim, salta à vista.
Parabéns! E continua em grande!
Amália Alberto
Adoro este poema!
ResponderEliminarÉ nos dias em que estou mais chateada e aborrecida com as opções erradas que fiz, que venho lê-lo e fazer as pazes comigo mesmo!
Permite-me o erro,a culpa, e encontrar a solução, e regenerar a seguir, a beleza... é complexa, a beleza é a incoerência!É muito bonito este poema! É um hino!
Adoro a frase " a beleza mostra-nos o melhor lado para nos deixar com o outro a
[seguir!"
Muito obrigada João
É bom saber que existem pessoas que escrevem estas coisas que nos tocam, que nos acordam, que nos fazem pensar, agir e mudar as coisas, que nos fazem destruir tudo e recomeçar de novo! Tenho sorte por ter descoberto os teus textos, muito urgentes!
ResponderEliminarAlém de seres um Poeta és um Filósofo. Ajudas-nos a sair da caverna!
Obrigada pela tua beleza. =)
Isabel,
vou seguir sempre os teus textos =)
C<ro João já entendi k o teu blog é agitado.
ResponderEliminarSabe smpr bem entrar no bus (mesmo k seja a coisa mais chata andar de bus) e ter lá um cartaz, k agora é um plasma com frases feitas à medida para as pessoas k a tua poesia é dedicada.
Curti mt a ideia dos TUB e gostava de te felicitar. Pois sabes k no fim do dia, grandes poemas para pequenas viagens fazem toda a diferença.
Pk não os comboios? fica o pedido à CP para pensarem nesta brilhante ideia, pois dá mais cor à nossa rotina. ««
E mts parabéns pelo exelente blog, e muito sucesso, conheço à pc o teu trabalho mas já vi que tenho k visitar o teu blog mts vzs!
sigo ,agarrada ao primeiro transaporte público que ,de certeza ,me lava a ti
ResponderEliminar.
um beijo
Sim é uma ideia excelente por mais poemas em mais autocarros de outras cidades, nos comboios de todas as cidades do mundo, aliás em todos os serviços devia haver frases fantásticas para dar mais um pouco de luz=)
ResponderEliminarVamos criar os grandes poemas pra todas as viagens de todas as pessoas.
Muito bom seu blog e sua arte voltarei!
ResponderEliminarAdorei João!! Como bem tu escreves, a beleza está em tudo e no nada; em todos e em ninguém; a beleza é contraditória; é o mal e o bem; a beleza está nos olhos de quem a percebe, de quem deseja enxergá-la; a beleza é humana, desumana; doce e cruel; enfim, a beleza é poesia, que dá vida aos nossos pensamentos e sentimentos do dia a dia. Beijão.
ResponderEliminar