o poema não
quero as palavras pequenas como feijões
que não me dêem problemas como os feijões
as palavras mescladas com carne que me dão a sabedoria de quem
[não está para pensar
os grandes temas fazem-me comichão e ardem-me demais
já os visitei muitas vezes
tantas que não estão em casa
o amor não está em casa
a vida não está em casa
a condição humana não está em casa
a violência
a beleza
a tristeza
as raças
as distâncias
a injustiça não estão em casa
ninguém está em casa por isso não gloso a erudição mas gozo o
[poema não
o não poema
o que não diz
o que nada
o poema nada
este é o poema nada
é o que existe na vez do branco
o que existe para matar a árvore
a literatura morta
lenta
inválida
sensaborona
flácida
talvez assim entendam
talvez assim o queiram
não perco em tentar
se serve tanta gente porque não há-de servir
vou só antes de terminar escrever umas palavras à sorte
[com um truquezinho estilístico
pelo sim pelo não
e fica o trabalho feito
a pata do pombo trepa o farol
é isto
que bem que corre
soa tão bem e diz tão nada
olha de novo
o lento do corvo imiscuí-se na negrura dos tempos
é soturno bom para quem gostar
soa bem
música de elevador
só mais uma para acabar
o tentáculo do céu acalma o horizonte
espera
não
este é bom
é melhor guardar para um poema poema
um poema mesmo
trocando por miúdos um poema
esquece aquele
substituo por
o autocarro sozinho na penumbra
olha que bem
mesmo à medida do que não diz nada mas que ao mesmo tempo é
[tudo
muito bem
bem bonito
estou mais velho
mais feio
mais estúpido
e tu também
o Peloponeso pinta-me o pénis Laurinda
in "a verdade dói e pode estar errada"
Eu sou a maluca que depois de ouvir os seus poemas, quero sempre casar consigo, depois passa-me...Mas que quero lá isso quero! Hoje apetece-me não só casar como fazer um graffit com baton nessa janela com o pedido ...
ResponderEliminarBeijinhos :P
Quase sem fôlego...o poema que se faz,passando faz..rápido pela janela do trem.
ResponderEliminarO convido a visitar o blog
www.cristinasiqueira.blogspot.com
Com carinho,
Cris
gosto imenso da forma como dás vida cor e voz a tudo o que escreves!
ResponderEliminarAbsolutamente soberbo
ResponderEliminar(aplausossssssssssssssssssssssssssssssssssssss).
Uma excelente declamação.
Eu, confesso, sou um apaixonado pela declamação,
mas a teatralizarão, a expressividade, o tom da voz,
o trabalho que se adivinha deixou-me absolutamente rendido.
(Sobre o trabalho que se percebe estar por detrás,
um exemplo, o pormenor do enquadramento cénico dado pela câmara - num primeiro plano o poeta quase imóvel na janela envidraçada (onde se move apenas a cabeça - até ai magistral a declamação porque centrada quase exclusivamente na face), e num segundo plano, o mundo em movimento).
Agradeço a partilha.
Magnifico, Soberbo e as demais palavras que traduzem a Excelência.
Devo ter andado muito distraída para só agora o ter descoberto!...
ResponderEliminarÓ que maravilha!!!
Adorei a forma como ''vive'' a sua poesia!
Um abraço.
Grande João!Sou teu fã! Hilariante, este poema!
ResponderEliminarEsses parolos que brincam aos poetas e ao efeito "borbolético" da poesia e da inspiração, e a tentar parecer inteligentes, a a escrever poemas que não dizem nada, nem fazem sentido deviam ouvir e ler este poema, e enfiar um barrete e em vez de brincar aos poetas, podiam desta vez brincar aos pintores, com "tanto" jeito para a imagem pseudo surrealista pode ser que aí tenham algum sucesso-lol- torço mesmo para que desistam de ser forinhas!
A sério, que acho brilhante este poema, toca na ferida a esses pretensiosos, que "escrevem" sem esforço, e não entendem o verdadeiro sentido de ser poeta- como é sem esforço e não é talento, nem trabalho e génio, são uma espécie que deturpa o género poético.
Brilhante João!Continua a fazer este trabalho excelente! E a dar a conhecer o te talento e teu génio que fazes falta para alertar consciências! E mudar isto para melhor, como tu dizes num poema!
Estou contigo.
És mesmo o maior poeta que li até hoje!
"Olé"
Este poema é muito bom! A arte é vista de uma forma muito presunçosa e pretensiosa. Estou contigo!
ResponderEliminarAcho que sim, concordo com o Joaquim Pedro, faz justiça à poesia-poesia!
Ah João Negreiros é mesmo muito bom, é mesmo muito. Como dizes em num poema teu, mesmo TUDO!
Amália
Belo interpretação ,bolo poema!Diz o que precisamos entender e colocar em prática.Preciso do Sr . mestre para aprender a beleza que expressa.
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