a sombra para além dos dias é a lembrança de ontem e o poder não haver amanhã
levo numa mala coisas simples para voltar e sei exactamente a quem pertencem
levo-as numa de devolver e guardo-as com a mão dos dedos todos para que não esqueça porque vou
sei ainda de cor os passos para casa e só penso no inverso quando me arremesso à frente
tenho de passar daqui para lá sem ir desta para melhor
há partes de mim feitas à mão que não passam na alfândega e maravilhas escondidas que vou ter que declarar
vou para longe para ser visto de relance pelos olhos frios da certeza da parada das tropas
sou o viajante
o camionista
o forasteiro
o astronauta
o emigrante
o país
o sem-abrigo
o que vai agora aprender a falar
o que vai agora aprender a comer
o que vai para a sombra ver melhor
o que não sabe ao que vai
sei o regresso e fujo ao passado entre os dedos juntos
oxalá não se esqueçam de mim
o neto da nau catrineta
o bisneto do Deus nos livre
o marujo à cabra cega
fiz a mala mais pequena que havia com o couro das costas
e tenho dores nelas quando vos aperto nas mãos
fui fazer um país novo e encontrei o que já lá estava
dei um adeus a ver se voltava porque não sabia até já na outra língua
e por isso fiquei mais tempo
espero voltar
espero um dia
espero que baixe à terra um bilhete de avião
espero por ver maior a foto tipo passe-vite que me amarrotou o transparente da carteira
espero por um dia mais novo comigo mais velho a falar mau português com o carinho todo que tiver
João Negreiros
Haja quem os cante assim!
ResponderEliminarEste poema é lindo... muito familiar ainda que não seja a canção da vida inteira! A sério.. um dia se puder e não me emocionar tanto como hoje gostava muito de o dizer! =) (sim , emocionou-me...) quando leio este poema vejo o meu pai. e cada palavra do poema é uma dele mas versão mais bonita! e mais evidente e mais próxima! mais próxima!
ResponderEliminaré ...obrigado joão... acho que vou transcrever o poema e enviar um pombo correio, como diz um amigo meu;)
Beijinhos
Dina
Ai querida Toupas, se soubesses a força que tens dentro... andavas com ela cá fora.
ResponderEliminarCaro João
ResponderEliminarSou o Luís Ismael e precisava de conversar contigo sobre um projecto que está a ser desenvolvido na Lightbox.
Pf envia o teu contacto para mail@lightbox.pt
Obrigado.
Especial...
ResponderEliminarVe o meu blog, se poesia romanceada neste novo mundo, visto sob uns olhos de mulher puramente, tristemente, loucamente, constantemente, apaixonada puder interessar a ti, Poeta.
www.estrelaemsepia.blogspot.com
Escrevi um livro também... "O Eco da Vida", Papiro Editora... Quem sabe se o lêsses...
Até já...
Beijinho
"Vivencias"
ResponderEliminar"A minha vida"
"Fácil seria"
"Espero-te sempre"
"Desabafo"
...
Talvez gostes desses... Procura absorve los...
Adorei ouvir-te a declamar.
Obrigado pelas palavras tão gentis, Mintaka. Parabéns pelo blog. Grande abraço.
ResponderEliminarOh, como compreendo as tuas palavras, como as sinto em todo o meu ser, até ao mais intimo de mim.
ResponderEliminarApenas os que se aventuram entenderão o verdadeiro sentimento do que é ser emigrante.
Obrigada, João!
É-se sempre aquele que parte, mesmo que seja apenas de si mesmo.
ResponderEliminarLindo...como os outros que tenho lido e acompanhado.
Tenho um livro (poesia)que me foi aconselhado por uma amiga...e já coloquei aguns poemas na Teia (o meu blog).
Parabéns.
:)
João Negreiros
ResponderEliminarParabéns um poema lindo. E infelizmente muito actual.
Não, não és piroso mas sim muito sensível.
Bem hajas
Como sempre, João, acho fantástico e admiro muito como consegues pôr em palavras sentimentos tão universais e que nos dizem tanto. Pessoalmente, sinto metade do que ai está escrito, migrei para fora, cá dentro.
ResponderEliminarParabéns e obrigada por aquilo que escreves!