a cidade dos tristes
a cidade dos parvos
não tem muito para rir
os burros e os asnos
só sabem carpir
e é tão longe
tão longe a saída
deixo o cérebro à chegada
e a beleza à partida
já nem sei bem o nome
que me deram meus pais
de ouvir os queixumes
já decorei os ais
e é tão longe
tão longe a saída
deixo o cérebro à chegada
e a beleza à partida
estou velho e comido
desde que estou aqui
e este bolso descosido
é um buraco negro nazi
mas estes escolhos
não me fazem tropeçar
e invento comboios
para partir a voar
e caio em mim
como quem se encontra
querem-me um manequim
mas eu parto a montra
na cidade dos tristes
só dá mesmo para rir
no começo desistes
do que vais conseguir
e é tão longe
tão longe a saída
deixo o cérebro à chegada
e a beleza à partida
e já sentes o cancro
caminhar-te no bucho
e vocês são o caroço
que com bisturi puxo
e é tão longe
tão longe a saída
deixo o cérebro à chegada
e a beleza à partida
qual notícia de médico
o teu caminho é triste
como um cego amnésico
esquece tudo o que viste
e vai de novo ao teu encontro
como quem beija um gémeo
que o destino já está pronto
e o amor-próprio é um prémio
e é tão longe
tão longe a saída
deixo o cérebro à chegada
e a beleza à partida
deixo o cérebro à chegada
e a beleza à partida
deixo o cérebro à chegada
e a beleza à partida
João Negreiros
Gosto demais dos teus escritos. Parabéns!
ResponderEliminarDalva Nascimento
Belíssimo! Parabéns.
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