sexta-feira, 18 de abril de 2014

"O que eu sou é a felicidade de estar viva" - O Manual da Felicidade

Gostava de sair à rua com um decote até ao chão. Um decote que mostrasse tudo, o cu, as mamas, o resto, tudo, até ao chão, até estar nua se não estivesse frio. Se estivesse frio podia estar quentinha vestida com meia-calça mas toda nua por dentro da meia-calça e da camisola interior.

Gostava de poder andar nua na rua no Verão e poder olhar para os homens sem precisar de ter medo de eles olharem para mim.

Gostava de me chamar “o que é que foi, nunca viste?”.

Gostava que a rua fosse minha e que na minha rua os homens fossem cavalheiros paternos que não aprenderam o paternalismo.

Gostava de me poder rir como as adolescentes, nunca me ri como uma adolescente. Adoro o riso das adolescentes. Nunca fui adolescente, tenho saudades. Acho que passei da infância à idade adulta durante a noite… para a próxima faço directa para rir toda a noite enquanto mando sms a um puto giro que anda um ano à frente e que já repetiu duas vezes…

Quero desfilar com lantejoulas até cegar quem pede esmola e quero ser a melhor amiga das mulheres.

Eu não me visto linda por causa do sexo dos homens. Eu visto-me linda por mim. Eu dou-me aos homens por mim se eles forem bons e ternos e sãos e puros e sábios e sinceros e honestos e lindos e príncipes encantados com bom feitio e ogres malvados com bom coração.

O medo não me deixa vestir o que quero e o medo não me deixa despir quando quero mas a partir de agora… a partir de agora mato o medo do meu guarda-roupa e visto a cor que me ficar melhor. A partir de agora vou vestir o mais ousado que a minha prudência quiser e o mais recatado que a minha coragem deixar.

Eu sou uma mulher. Não sou mulher para fazer inveja às outras mulheres. Sou mulher para ser vossa irmã. Eu sou uma mulher. Não sou uma mulher para provocar o homem. Eu compreendo-me só e dou-me aos outros só para partilhar o que sou com eles.
O que sou é isto. O que sou é a felicidade de estar viva. O que sou é a capacidade infinita de amar todos os que me rodeiam como se tivessem sido feitos para mim e para me entenderem.

Eu sou a mulher. Vivo para ti e tu és todos. Não faço nada de propósito mas se a minha felicidade e a minha beleza te inspirarem podes dizer-me bom dia e até podes amar-me incondicionalmente. Eu farei o mesmo.


Eu sou a mulher e visto-me a mim própria todos os dias para mim… e para ti.

Texto d' "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

1 comentário:

  1. Sou fã da tua escrita. É absolutamente genial. Já para não falar deste texto... tão simples e tão tocante.

    ResponderEliminar