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a fruta que se queria cristalizada
não sei qual é o tempo da fruta
como o que me dão
sem pensar na hora a que o Sol se põe
as castanhas congeladas do verão sabem-me bem
os diospiros podres da primavera também
não sei quando acaba a época
não sei quando começa a nova
e na minha época também não encontro espaço
finjo maduro sem saber se verde
e amoleço com a mágoa de quem devia ser duro
não sei a que horas devo dar sumo nem como me hei-de chamar
tenho a dificuldade de me reconhecer a origem
a idade
o sabor
o sangue
tenho o medo de me mandar analisar
podia ser obrigado a cortar-me todo e a secar aos bagos
às rodelas
aos nacos
sou a fruta de época que vem a seguir à carta dos gelados
escrita à mão pelo gerente do restaurante que fechou
sou a fruta sem época
sem sumo
sem sabor
e com caroços e pevides a fazer de lágrima
gota de gelo escorre
bochecha da lagarta morta
vai à melopeia da arca das consequências
a que me quer frio para conservar um tempo sem gente
sem árvores
sem chão
e sem os meninos que estiveram para me roubar
aqui está muito frio
ninguém me vai comer
e eu queria
queria a boca que me quebrasse o jejum
me lambesse as feridas
me chupasse as veias
me fizesse as ideias em gomos
e não vem
a boca não vem e imagino-me no palácio quente de marfim a matar-me por todo o lado
mastigando-me por todo o lado
desconjuntando-me por todo o lado para me acabar a eternidade que demora tanto
não tenho validade
não sei a validade
morri por dentro
sou incomestível como a sobremesa fria do natal
e levo as pontas dos dedos a tremer há décadas
se ao menos tivesse luvas
se ao menos tivesse dedos
se ao menos soubesse o que é a lareira
se ao menos me lembrasse da árvore
se ao menos soubesse esperar
se ao menos tu existisses com fome e me amasses com fome eu desfazia-me na tua língua e dava-te o sumo seco azedo de quem
de quem não sabe
de quem não foi convidado para a ceia
de quem não tem família
nem amigos
e que vai levar a vida
e o que falta da morte a tiritar no frio e a implorar pelo fim
in a verdade dói e pode estar errada, de João Negreiros
Está espectacular, parabéns.
ResponderEliminarbom, fico feliz por encontrar um lugar onde se pode viver a poesia de forma tão agradavel!!!
ResponderEliminarparabens por este lugar!
e ficas desde ja convidado a visitar tambem o meu cantinho,
http://minhasrealidades.blogspot.com/
Aparece e dá noticias .
abraço, e, continua a sonhar!
sabe muito bem passar aqui.
ResponderEliminarsendo fruta e poeta, é você também alimento. [saudações do www.semaspas.blogger.com.br beijos!]
ResponderEliminarBem... a julgar pela qualidade, pelo menos o texto deve estar mesmo na época. Muito bom, gostei.
ResponderEliminarBeijinho
És lindo! Arrepias-me!
ResponderEliminarUm poema Grande , João ...
ResponderEliminarUm prazer ouvir esta leitura ...
Cordialmente
__________ JRMARTO
GÉNIO, SOFRES , PAGAS , O TEU SOFRIMENTO ESPALHA-SE PARA UMA ESPÉCIE DE TÚNEL QUE AFUNILA . TU! TU VAI LONGE E AFASTA-TE DESSAS CURVAS E SEGUE RÁPIDO O TEU CAMINHO. NUNCA OLHES PARA OS LADOS, VÃO-TE ATRASAR, OU MATAR. PESSOAS COMO TU , E EU PENSAVA QUE ERA, ESTÃO TRAMADAS, QUERIDO JOÃO, BEIJOS DA MADALENA
ResponderEliminarcara este poeta e perfeito é a expressao em pessoa!!!!
ResponderEliminarFruto amargo ou doce, com qualquer sabor, podre ou verde, embora frio como o Doce de Natal, mas que se come em qualquer época, sem necessitarmos saber, sequer, se tem prazo de validade...
ResponderEliminarE ainda por cima o diz magistralmente, qual Villaret duma geração nova e fecunda. Bem Haja.
Muito bom*
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