o rio a saber a sabão tem o teu
nome e soletra-o quando os peixes morrem
as árvores dão pernas às raízes
para darem frutos ao pé de ti
as larvas fizeram um intervalo na
fruta podre e rastejaram até à tua beira
e tu caíste por mim dentro aproximando-me dos bichos e das folhas que
agora
[estão
como se eu fora
a minha natureza foi feita com o
que tinhas a mais
o que te escorreu pelo nariz
pelos ouvidos
pelos poros
fez um mar até mim
e eu nasci afogado porque o teu
amor inventou a água
a água és tu
quem se molha tem-te
tenho saudades de mim pequenino
quando estava no que tinhas dentro
a perguntar ao mundo que estava para existir se era
[tão lindo
lá fora como era lá dentro
és a mulher
fazes-me
inventaste a água
todos os imundos se lavam por ti
guardas toda a sujidade
entende-la
compreende-la
engoliste as arestas de todos os
podres e devolve-los imaculados como se a água que tu
[és
nos mostrasse as cores difusas dos oceanos que chorámos por ti
inventaste a água
inventaste a água
não sei nadar
fiz amizade com um peso atado aos
pés e navego por ti até ao fundo
inundas-me
acolhes-me
e não respiro
mas sorrio sem saudades do ar que
para mim foi mau
poema do livro "o amor és tu" de João Negreiros
muito bom João Negreiros
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